9 de novembro de 2014

O Sol e o Solo

O solo, tal como a palavra indica, está "só". Embora na presença de todos os organismos que o habitam - note-se que o conceito de solo incorpora tanto o meio abiótico como o meio biótico que o compõem - o solo está "sozinho", na sua solidão. E da mesma forma que um solitário pode viver feliz, um solo também pode viver feliz - a felicidade de um solo mede-se pela quantidade e diversidade de organismos que o habitam.


O bioindicador por excelência, da qualidade de um solo, são os anelídeos (mais especificamente as minhocas). O papel que estes animais desempenham nas funções de um solo é fundamental para o desenvolver das suas capacidades. Não só escavam galerias subterrâneas ideias para a circulação da água, como também as revestem de carbonato de cálcio - ideal para plantas vigorosas e duradouras. Mas para que estes animais surjam no solo, têm que encontrar um ambiente suficientemente saudável. A felicidade só surge a um solitário quando a sua saúde o permite. Para que estes animais possam surgir num solo fisicamente degradado ou quimicamente depleto há que recuperar a sua saúde.


O azoto é um nutriente chave para a fertilidade do solo. Permite que as plantas cresçam - logo, permite a produção de material vegetal rico em nutrientes. Este material vegetal, quando incorporado na terra, é degradado pela acção química, física e biológica do meio e é decomposto pelos microrganismos que o habitam. Os nutrientes que se encontram encerrados no material vegetal tornam-se, desta forma, disponíveis para que as plantas os possam absorver. A absorção de novos nutrientes pelas plantas celebra o começo de um novo ciclo biogeoquímico. E se cada vez mais nutrientes são produzidos para o solo pela acção das plantas é graças à acção do sol. Da mesma forma que o sol só permite as plantas crescerem porque as plantas estão ancoradas no solo, Deus (por falta de uma palavra melhor) só permite o indivíduo crescer porque o indivíduo está ancorado na solidão.


O azoto atmosférico é biologicamente fixado por cianobactérias que habitam a matriz do solo. Estas cianobactérias podem surgir ora livres ora associadas às raízes de certas plantas (rizóbios). A família das Fabaceae (ou leguminosas) está repleta de plantas com capacidade para esta associação. Os legumes potencializam a incorporação de azoto no solo para que mais legumes possam viver no meio. Se o solo não apresenta deficiências nutricionais - ou seja, se muitas minhocas são observadas no local - não há necessidade de se semear leguminosas; mas como assegurar uma contínua fixação do azoto atmosférico é importante, podemos recorrer-nos de culturas simultaneamente nutritivas para o homem e para o solo - como é tradicionalmente o caso das ervilhas, das favas e dos feijões.